terça-feira, 4 de junho de 2013

Entre cervejas e fumaça

REconhecer...
Não bastava uma casa na esquina e encontros imaginários
durante anos, com a intenção de comer um lanche ou
passear com meu cachorro, o Kurt,
ou, simplesmente passar na porta de uma casa,
pensando em um cara
que eu vi, uma, ou duas vezes no máximo,
ele havia procurado sua própria alma em alguns Estados, e a vendido
em outros, enquanto eu,
definhava na BR 050, dentro de cinco, seis
ou sete paredes, obedecendo chefes e seus puxa-sacos.
Um fim de semana, um sábado à noite,
tédio subia pelas paredes do quarto, e saí de casa pra beber
com uma, agora, ex-amiga.
_ Vitrola?
_ É, não temos outra opção.
[tínhamos, se a minha preguiça de ir até uma cidade vizinha ver pessoas patéticas e tomar a mesma cerveja que eu tomaria aqui, me permitisse]
E de repente, entre uma cerveja e um pensamento
encontrei aquele que pensei não ver mais, subiu as escadas
de um bar underground qualquer, meio bêbado, meio sóbrio,
queimou minha coxa
_ Nossa, me desculpa!
_ Tudo certo, não me queimou, sério...
[podia ter queimado, ou eu poderia ter fingido uma queimadura de terceiro grau, assim me daria um pouco mais de atenção]
Penso que seria mais fácil ter me oferecido um cigarro ou
uma bebida, mas não, não podia ser igual a todos os outros
ele era diferente, desde o começo. Foi diferente!
Madrugada começando, e um cara gay, feliz e um tanto alcoolizado, me pega pelos braços:
_ Você é a menina mais linda desse lugar, olha só Fulano, ela é linda.
_ Sim ela é, responde o outro, também alcoolizado.
Entre risadas, saí desse encoxamento, e comentei com aquele cara,
que já devia ter puxado assunto após me queimar com um cigarro...
Músicas! Ele é um apreciador da música, boas e velhas músicas,
tem um cabelo enrolado, um cabelo que é dele, só dele... uma boca torta, charmosa,
envolta a uma barba malfeita porém rente,
que acompanha olhos castanhos, pequenos,
invisíveis olhos castanhos
que te joga um olhar charmoso, e um brilho um tanto pensativo,
um tanto triste...
talvez seja meu jeito de olhar, um jeito que sai dos meus olhos castanhos
um tanto pensativos, um tanto tristes
pude conversar uma madrugada inteira, e pescar seus sonhos como quem
entra em outra vida e já se sente parte dela
eu poderia ficar horas ali só olhando o jeito como ele fala sobre discos, e
músicas, dizendo que meus trocadilhos eram péssimos
observando um olhar e seus desejos secretos,
me sugando com seus invisíveis olhos castanhos
eu poderia, mas a madrugada, pra mim, já estava acabando
me despedi, com a mão no rosto de alguém que tinha salvo minha noite,
que seria mais uma noite, como todas as outras,
e por mais que ele não entenda, e por incrível que possa parecer
o destino quis um toque excitante de um canto de boca,
levei ele em pensamento e uma pulga comigo
que deixei atrás da orelha,
eu não estava em um dos meus melhores dias

mas ele mudou todos, assim que desci as escadas...

Um comentário:

Camilo Alves disse...

Não canso de ler, e ver como eu sou um fdp sortudo por ter você na minha vida.